"A vitória pertence ao mais perseverante." (NapoleãoBonaparte)
RESENHA:
A presente obra divide-se em sete capítulos, onde conta à história de uma
águia criada como uma galinha. Essa história é compreendida como uma metáfora
da condição humana. Cada um poderá lê-la e interpretá-la conforme o chão que os
seus pés pisam. Essa obra sugere caminhos, mostra uma direção e projeta um
sonho promissor.
O autor Leonardo Boff, em 1938, formou-se em Teologia e Filosofia no Brasil e
na Alemanha. Durante mais de vinte anos foi professor de Teologia Sistemática
no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis. Por vários anos esteve à
frente do editorial religioso da Editora Vozes. Junto com outros ajudou a
formular a Teologia da Libertação, que por causa desta teve conflitos com a
Igreja Católica, sendo proibido de dar aulas por um determinado período e a
fazer um ano de silêncio. Mais tarde foi professor de Ética e Filosofia da
Religião na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É autor de mais de
sessenta livros ligados à teologia, à filosofia, à espiritualidade e à
ecologia, em sua grande maioria publicados pela Editora Vozes. É membro da
Comissão da Carta da Terra. Em 2002, em razão de seu compromisso com o direito
dos pobres, ganhou o prêmio Nobel alternativo para a paz.
Ao ler a obra você vai se confrontar com duas dimensões fundamentais da existência
humana: a dimensão do enraizamento, do cotidiano, do limitado, que seria o
símbolo da galinha e a dimensão da abertura, do desejo, do ilimitado, o qual
seja o símbolo da águia. A partir disso o autor nos questiona em como
equilibrar essas duas dimensões. E como impedir que a cultura da homogeneização
afogue a águia dentro de nós e nos impeça de voar.
Para dar uma resposta convincente a esses desafios, o autor visita a moderna
cosmologia, a nova antropologia, a psicologia profunda, a ecologia, a espiritualidade
e a mística. O resultado é uma reflexão instigante que provoca entusiasmo na
busca da identidade humana através da inclusão das contradições e da superação
dos eventuais obstáculos a nível pessoal, social e planetário.
A história da águia e a galinha evoca dimensões profundas do espírito,
indispensáveis para o processo de realização humana: o sentimento da
auto-estima, a capacidade de dar a volta por cima nas dificuldades quase
insuperáveis, a criatividade diante de situações de opressão coletiva que
ameaçam o horizonte da esperança.
Mas não podemos nos limitar a sermos somente galinha ou somente águia. Como
galinhas somos seres concretos e históricos, mas jamais devemos esquecer nossa
abertura infinita, nossa paixão indomável, nosso projeto infinito, nossa
dimensão águia. Se não buscarmos o impossível (a águia) jamais conseguiremos o
possível (a galinha).
Cada ser humano tem uma estrutura básica que se manifesta mais como a águia em
alguns, mais como a galinha em outros. Cada um precisa escutar essa natureza
interior, captar a águia que se anuncia ou a galinha que emerge. Após
escutá-las, importa usar a razão para ver claro e o coração para decidir com
inteireza. Somente assim se conquistará a promessa de um equilíbrio dinâmico.
A história da águia e da galinha nos evoca o processo de personalização pelo
qual todo ser humano passa. Não recebemos a existência pronta. Devemos
construí-la progressivamente. Há uma larga tradição transcultural que
representa a caminhada do ser humano, homem e mulher, como uma viagem e uma
aventura na direção da própria identidade.
Recusamo-nos a ser somente galinhas. Queiramos ser também águias que ganham
altura e que projetam visões para além do galinheiro. Acolhemos prazerosamente
nossas raízes (galinha), mas não à custa da copa (águia) que mediante suas
folhas entra em contato com o sol, a chuva, o ar e o inteiro universo. Queremos
resgatar nosso ser de águias. As águias não desprezam a terra, pois nela
encontram seu alimento. Mas não são feitas para andar na terra, senão para voar
nos céus, medindo-se com os picos das montanhas e com os ventos mais fortes.
Hoje, no processo de mundialização homogeneizadora, importa darmos asas à águia
que se esconde em cada um de nós. Só então encontraremos o equilíbrio. A águia
compreenderá a galinha e a galinha se associará ao voo da águia.
Ao final do livro, o autor apresenta a bibliografia de alguns títulos em
português que ajudarão o leitor no aprofundamento da metáfora da águia e da
galinha, entre eles; BARRÈRE, Martine. Terra. Patrimônio comum. São Paulo,
Nobel, 1995; BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. São
Paulo, Ática, 1995; BONAVENTURE, Leon. Psicologia e mística. Petrópolis, Vozes,
1978; e outros.
A obra nos traz uma compreensão de que cada ser humano tem suas próprias
dimensões e devemos respeitar cada uma delas. Há momentos em nossa vida que
devemos articular as relações e realizar a síntese a partir da realidade da
águia e em outros, a partir da realidade da galinha.
Na nossa atual humanidade e em nosso planeta, assistimos aos mandos e desmandos
dos mais fortes, dos detentores do saber, do ter e do poder, que querem
controlar, para nos reduzir a simples galinhas e nos subordinar aos seus
interesses, mas é preciso que não aceitemos essa submissão, que rejeitemos os
conformismos, os comodismos, porque essa dominação sempre será causadora de
muitos sofrimentos à maioria da humanidade diante da pobreza e da exclusão
social, por isso é necessário que despertemos a águia que existe dentro de nós
para juntos construirmos um mundo melhor, onde todos possam participar e
decidir sem omissões, libertando-se da opressão.
Referência Bibliográfica:
BOFF, Leonardo.
A águia e a galinha, a metáfora da condição humana.
40 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
Cátia Manoela Gasparetto é acadêmica do Curso de Pedagogia da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus de
Erechim / Janeiro de 2006.
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